Falar sobre o sentido da vida é fundamental em tempos de aceleração da sociedade e do tempo.
Vivemos nossas vidas de forma automatizada, como se fôssemos eternos, sempre na certeza de que haverá amanhã. Até que a finitude da existência humana revela a nossa fragilidade: somos feitos de instantes, acontecimentos apropriativos, desde o dia em que nascemos até o último suspiro.
Viktor Frankl, falecido Psicanalista que sobreviveu ao holocausto, sofrendo toda espécie de violação de direitos humanos em campos de concentração durante o nazismo, ensina que, “apesar de tudo, é preciso dizer sim à vida”. E Luciano Marques de Jesus, em sua valiosa obra sobre o sentido da vida em Frankl, traz a seguinte lição: “Quando se afirma que o sentido da vida acontece pela realização de valores, não se está propondo algo metafísico ou abstrato, ao contrário, algo muito concreto. O problema do sentido da vida é uma tarefa concreta, que desafia os seres humanos em contextos diferentes da vida, na saúde, no trabalho, nas finanças, nos relacionamentos, na cultura; nos momentos alegres, plenos e sublimes, mas também nos momentos difíceis, complicados e trágicos. Trata-se de uma questão concreta, do ser humano real, e não de uma digressão teorética” (JESUS, Luciano Marques. Qual é o Sentido? Reflexões sobre o sentido da vida a partir de Viktor Frankl. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2018, p. 50).
A vontade de sentido, à luz do pensamento de Frankl, joga luz na importância dos valores criativos, experienciais e atitudinais e na autotranscendência como chave interpretativa, ou seja, no sentido da vida projetado para além da existência de si mesmo.
Em tempos de tribalismo e de polarização, é fundamental o cultivo da paz, do respeito e da fraternidade como valores estruturantes da sociedade. A aceleração social não pode ofuscar a ética da alteridade e do cuidado para com o outro, em especial as pessoas mais vulneráveis. Por exemplo, as pessoas em situação de rua, sem abrigo, comida e vestuário; as mulheres vítimas de violência doméstica e familiar, em um ciclo que se agudiza até o feminicídio; as crianças e os idosos em busca de vínculos ou conexões de sentido, que sofrem diante da omissão, do descaso e da negligência de familiares.
Da “vontade de poder” e do culto à “tribalização” (“nós” e “eles”), precisamos caminhar para a vontade de sentido, construindo vínculos familiares e comunitários que permitam uma vida com significado autêntico. Agregar as pessoas pelo que elas têm de melhor, mediante o trabalho, a família e a espiritualidade, valores que dão sentido à nossa existência.
A busca constante pela vitalidade dos direitos humanos, em especial o valor da vida humana, é condição de possibilidade para a superação do “vazio existencial”, do egoísmo e do adoecimento da linguagem por meio dos discursos de ódio. Que as nossas vidas possam produzir sentidos autênticos e legítimos para além de nós mesmos!