
Alguns temas pactuados na cúpula do BRICS 2025, realizado no Rio de Janeiro neste ano, leva em conta os princípios básicos como a justiça climática, inclusão comunitária, uso responsável dos recursos naturais e valorização da biodiversidade. São diretamente aplicáveis à operação do turismo nos parques da região, ao Geoparque e à Úrbia.
A XVII Cúpula do BRICS, realizada de 6 a 7 de julho de 2025, no Rio de Janeiro, Brasil, sob o tema “Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável”, obteve 126 compromissos oficiais cobrindo governança global, finanças, saúde, IA e clima. Entre os compromissos fundamentais estão a Declaração-Quadro sobre Finanças Climáticas abrangendo o acesso justo e acessível ao financiamento para transição verde; a do NDB (Banco de Desenvolvimento) que recebeu apoio explícito para expandir uso de moedas locais e ampliar sua adesão e funções; e o alinhamento das agendas de IA, com temas importantes como os princípios de uso responsável e inclusivo para impulsionar desenvolvimento socioambiental.
Como temas centrais teve a Cooperação do Sul Global com ênfase em reforçar a voz do Global South (África, América Latina) em fóruns como ONU, FMI, G20; a Sustentabilidade, destacando a justiça climática como “dever moral”, promovendo iniciativas ambientais e vinculação da saúde planetária ao bem-estar humano, e a Diplomacia e Economia, com discussões que abrangeram barreiras comerciais e expansão de moedas locais.
Entre seus Resultados e Legados estão a adoção de uma Agenda Climática Robusta, incluindo o fundo climático e declarações financeiras; o Fortalecimento institucional da NDB como catalisadora de projetos sustentáveis no Global South; as bases lançadas para Governança Ética da IA com uma visão humanitária e inclusiva; e o sinal claro para a atuação do BRICS como Bloco Político-econômico Influente na governança global.
A Cúpula do BRICS 2025 consolidou-se como um marco para reforçar a cooperação entre países do Sul Global, atuando de forma mais organizada e assertiva. Embora desafios internos persistam, o bloco dá passos significativos em direção a uma governança global mais equilibrada, inclusiva e sustentável.
Impacto direto com grande potencial para o turismo no Extremo Sul de Santa Catarina
Área de Impacto Potenciais Benefícios
Financiamento e apoio internacional Projetos de ecoturismo podem acessar recursos/gatilhos do BRICS Green Tourism.
Infraestrutura Investimentos em estradas e pequenos aeroportos/espaços regionais, impulsionados via SEZs ou cooperação aérea.
Captação de nômades digitais Investe-se melhor internet, infraestrutura e marketing no ambiente natural para atrair visitantes de longo prazo.
Comércio e produtos locais Artesanatos, gastronomia local e turismo rural vendáveis online, com acesso a compradores pertencentes ao bloco.
Visibilidade internacional Inserção do geoparque em roteiros BRICS, feiras, eventos e pacotes culturais e naturais.
Esse conjunto de iniciativas – fortalecidas por compromissos da própria declaração – pode catalisar um ciclo virtuoso de valorização ambiental, econômica e cultural no Extremo Sul catarinense, integrando-o com mercados globais emergentes.
Influência no Extremo Sul Catarinense
A realização do BRICS/202 projeta uma influência direta sobre territórios com características ambientais sensíveis e vocação turística, como o Geoparque Caminhos dos Canyons do Sul.
A retomada da “Aliança para o Turismo Verde” entre os países do bloco abre a possibilidade de o Geoparque se posicionar como exemplo de boas práticas em sustentabilidade ecológica e inclusão comunitária. A visibilidade internacional que o tema alcançou entre os países emergentes pode colocar os Canyons do Sul na rota de investimento em infraestrutura ecológica, projetos de educação ambiental e captação de recursos por meio de mecanismos multilaterais, como o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB).
Para que isso se traduza em mudança concreta, é essencial revisar e ampliar os critérios de sustentabilidade atualmente aplicados nos dois Parques Nacionais da região – Aparados da Serra e Serra Geral – especialmente sob gestão da concessionária Urbia Cânions do Sul.
A agenda verde debatida no BRICS também exige indicadores precisos de redução de impacto, educação dos visitantes, envolvimento das comunidades locais e promoção ativa da biodiversidade. A Urbia, embora tenha implementado melhorias estruturais e tecnológicas, ainda enfrenta críticas quanto à padronização do turismo de massa e à baixa inserção de práticas inovadoras de sustentabilidade ativa, como neutralização de carbono das visitas, estímulo ao transporte ecológico e envolvimento sistemático de comunidades tradicionais nos processos decisórios.
O Geoparque, por seu status reconhecido pela UNESCO, poderia ser vitrine para o Brasil dentro da estratégia do BRICS, mas para isso precisará reposicionar sua gestão turística com metas mais ousadas de governança ambiental. Isso inclui pressionar a Urbia a adotar indicadores de performance socioambiental transparentes, promover auditorias participativas sobre impactos do fluxo turístico e canalizar os compromissos do BRICS para criar programas pilotos de ecoturismo regenerativo e inclusão social.
Três alterações que poderiam alinhar BRICS e UNESCO para beneficiar o Geoparque:
1) CRIAÇÃO DE UM PROGRAMA-PILOTO BRICS-UNESCO PARA GEOPARQUES SUSTENTÁVEIS.
Sugerir, via Itamaraty e Unesco-Brasil, a criação de um selo ou programa BRICS-UNESCO voltado a geoparques reconhecidos pela UNESCO situados em países do bloco. Esse selo fomentaria boas práticas em biodiversidade, monitoramento climático, turismo comunitário e mobilidade ecológica. O Geoparque Caminhos dos Canyons do Sul poderia ser laboratório inicial, com apoio do NDB (Novo Banco de Desenvolvimento).
2) INCORPORAÇÃO DE CRITÉRIOS UNESCO NOS INDICADORES DE DESEMPENHO DO BRICS GREEN TOURISM.
Os indicadores de sustentabilidade pactuados na cúpula poderiam adotar as métricas já reconhecidas pela UNESCO nos seus programas, como os das Redes Globais de Geoparques ou da Agenda 2030. Isso permitiria que locais como os Canyons fossem automaticamente qualificados para captar recursos de turismo verde, sem precisar criar novos sistemas de validação.
3) PLATAFORMA CONJUNTA BRICS-UNESCO DE INTERCÂMBIO ENTRE GEOPARQUES E ÁREAS PROTEGIDAS.
Estabelecer uma rede de intercâmbio técnico, científico e turístico entre os geoparques e parques nacionais dos países BRICS, com foco em gestão participativa, educação ambiental e economia criativa. Santa Catarina poderia sediar uma edição desse encontro, integrando experiências da África do Sul, Índia e China que também possuem geoparques em zonas de transição social e ambiental delicadas.
Essas sugestões reforçam o potencial do BRICS, principalmente a deste 2025, como catalisador de práticas sustentáveis e diplomacia técnica, sem duplicar estruturas da UNESCO, mas sim convergindo esforços por meio de pontes institucionais que favoreçam territórios como o dos Canyons do Sul.
Engrenagem e Mudança
Os compromissos assumidos pelo Brasil na Cúpula do BRICS 2025 e os princípios consagrados pela UNESCO para os geoparques globais representa uma oportunidade histórica para reposicionar a gestão turística no Geoparque Caminhos dos Canyons do Sul.
A ênfase do BRICS em turismo verde, justiça climática, inclusão comunitária e inovação ambiental obriga atores públicos e privados a irem além do discurso e a assumirem posturas concretas de transformação territorial. A Urbia, por exemplo, enquanto gestora das atividades nos dois principais parques nacionais da região, carrega a responsabilidade de ser exemplo de boas práticas, aplicando metas e ações alinhadas às diretrizes globais que o Brasil endossa em arenas multilaterais.
A sociedade civil, em especial os turistas, desempenha papel central nessa engrenagem. Turistas que cobram relatórios, que exigem inclusão social e valorizam o consumo local são parte de um novo perfil de visitante que não apenas admira a paisagem, mas assume a defesa ética de sua sustentabilidade.
Gestores municipais, por sua vez, devem usar o respaldo político e institucional das declarações internacionais para exigir cumprimento de metas concretas — como metas de redução de impactos ambientais, de empregabilidade local e de compensações ecológicas.
A manutenção do título de Geoparque, a reputação do Brasil no cenário ambiental global e, acima de tudo, a qualidade de vida das comunidades que habitam os Canyons do Sul dependem de um sistema turístico justo, transparente e regenerativo. Cabe a cada turista, gestor e morador SER voz ativa na construção desse novo modelo, em que o turismo não destrói, mas fortalece a natureza e as pessoas.
A era do turismo espectador ficou para trás.
O futuro será guiado por viajantes engajados.
Até a próxima matéria !!